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Presidente da Abracicon destaca a importância de se investir no patrimônio intelectual da classe contábil

Maria Clara Cavalcante Bugarim presidente da Academia Brasileira de Ciências Contábeis – Abracicon desde 2017, foi também a primeira mulher a presidir o Conselho Federal de Contabilidade- CFC, por duas gestões consecutivas, de 2006 a 2007 e de 2008 a 2009, e a primeira representante do sexo feminino a ser agraciada com a mais reconhecida honraria da Contabilidade brasileira, a medalha do Mérito Contábil João Lyra, outorgada por ocasião do 20º Congresso Brasileiro de Contabilidade, realizado em Fortaleza no período de 11 a 14 de setembro de 2016.

Identificada por sua força e determinação e por quebrar paradigmas em todos os cargos que ocupou, quer seja na área governamental, no Estado em que nasceu, Alagoas, na área educacional e acadêmica ou nas entidades de classe, tais como Conselhos Regionais, Conselho Federal e a Abracicon, Maria Clara sempre imprimiu sua marca, ao promover fatos inéditos, criar tendências e apontar soluções para as questões contábeis e o desenvolvimento da profissão no seu mais alto significado.

Para dividir um pouco de sua enorme bagagem conhecimentos de experiências profissionais, a Acadêmica concede entrevista exclusiva à Academia Paulista de Contabilidade - APC, na qual fala sobre os desafios da profissão contábil e das Academias, enfocando, em especial, o envolvimento da Abracicon com as demais Academias de Contabilidade constituídas em todo o País.

 

Como é ser a primeira mulher a ocupar a Presidência da Abracicon e do maior órgão da classe?

Maria Clara – Na condição de uma mulher que já galgou alguns passos na busca do próprio desenvolvimento profissional, posso afirmar que muito me orgulham as posições de ex-presidente e presidente dessas duas entidades de peso, não por vaidade, mas por ter contribuído (e por contribuir), de forma efetiva, para o engrandecimento da profissão e, consequentemente, para o aprimoramento da classe contábil brasileira, hoje formada por mais de 520 mil profissionais. 

Como primeira mulher a chegar à Presidência do Conselho Federal de Contabilidade, quebrei um paradigma de seis décadas. Sem qualquer conotação sexista, abri espaço para outras profissionais, para que, assim como eu, pudessem também alcançar posições de destaque nas mais diferentes instituições – contábeis ou não. As mulheres mantiveram-se, por longos anos, ausentes da história brasileira, mas, atualmente, elas vêm conquistando o seu merecido espaço em todas as esferas da sociedade.

Abrindo um parêntese, contamos atualmente com sete mulheres à frente dos Conselhos Regionais nos Estados e cinco nas Academias Regionais. Quantitativamente falando, é uma representação feminina muito aquém do que queremos alcançar, mas já dá mostras de onde somos capazes de chegar.

Por outro lado, acredito na força produtiva, na competência técnica e na liderança política de ambos os sexos, trabalhando em harmoniosa igualdade. Não seria legítima a discriminação pelo gênero, nem por qualquer outro viés.

Na condição de mulher assumi, com absoluta naturalidade, as honrosas funções a mim confiadas, concitando todos os colegas profissionais à união e à colaboração para maior grandeza da nossa classe. Assumi não somente a Presidência do CFC e da Abracicon, mas as riquíssimas histórias de memoráveis feitos que nossos antecessores souberam edificar – diga-se de passagem, um patrimônio incomensurável; um legado digno de ser preservado e ampliado, para o orgulho das gerações futuras de profissionais e para o bem-estar da sociedade brasileira.

Do lado da Academia, a ideia abraçada pela Abracicon parte do compartilhamento das ideias e sentimentos, das experiências e dos múltiplos saberes. Tenho a plena certeza de que hoje esta entidade já não é a mesma de ontem. Com a incorporação de outros valores ao seu quadro de membros efetivos e com o aporte de mais inteligências, geraram-se outras expectativas e novas demandas, uma vez que, a partir de cada novo membro empossado, reconfigura-se o patrimônio sociocultural e científico dessa entidade.

A minha meta enquanto dirigente de entidades ou enquanto profissional é preservar o incalculável legado técnico-científico que tem permitido o sucesso da profissão e assegurar as tantas conquistas da classe contábil, com o consequente ganho de respeitabilidade perante a Nação brasileira.

 

Como é unir entidades como o CFC e a Academia que abordam filosofias e finalidades totalmente diferentes?

Maria Clara – Apesar de as duas entidades se ocuparem de papéis diferentes em seus propósitos primeiros, elas falam a mesma língua nos quesitos “valorização profissional” e “desenvolvimento das Ciências Contábeis”.

Cada uma com o seu escopo, a Abracicon tem como objetivo promover, divulgar e valorizar atividades que contribuam para o desenvolvimento e estímulo ao conhecimento filosófico, científico e tecnológico da Contabilidade. O CFC, por sua vez, tem a função de orientar, normatizar e fiscalizar o exercício da profissão contábil, por intermédio dos Conselhos Regionais de Contabilidade, cada um em sua base jurisdicional, nos estados e no Distrito Federal; decidir, em última instância, os recursos de penalidade imposta pelos Conselhos Regionais, além de regular acerca dos princípios contábeis, do cadastro de qualificação técnica e dos programas de educação continuada, bem como editar Normas Brasileiras de Contabilidade de natureza técnica e profissional.

São duas entidades fortes, que vêm colaborando para que alcancemos um maior nível de excelência na Contabilidade, seja no aspecto endógeno – quando se voltam para a promoção da capacitação de seus profissionais –, seja no âmbito exógeno, quando estão focadas no cumprimento de seu papel social.

Entretanto, sintonizada com o futuro, sempre procurei inovar naquilo que se faz necessário. Sempre estive e estarei, permanentemente, acessível ao debate de novas ideias e ideais, respeitando, em todas as decisões, a vontade soberana da maioria.

 

Como foi o seu início nas entidades de classe e órgãos públicos?

Maria Clara – Em 1987, concluí o curso de Ciências Contábeis, no Centro de Estudos Superiores de Maceió. Àquela altura, já como cientista contábil, procurei não me esquecer das sábias e impagáveis lições tão bem ensinadas pelo meu maior incentivador e exemplo desde o início, meu pai Clarício Bugarim, cujo nobre ofício tenho a máxima honra de compartilhar.

A partir de então, a minha vida profissional tem sido marcada por muitos desafios, os quais nunca me intimidaram na busca de meus objetivos maiores. Desde muito cedo, venho trilhando caminhos nas áreas governamental, acadêmica e das entidades de classe, assumindo cargos até então nunca ocupados por mulheres.

Em Alagoas, atuei como Auditora-Geral do Estado; Técnica de Controle Externo do Tribunal de Contas do Estado; Diretora Financeira do Instituto de Previdência (Ipaseal); Secretária de Assistência Social do Município de Santana do Mundaú (AL); e Presidente da Associação dos Servidores do Ipaseal.

Em Fortaleza, assumi a docência no Programa de Mestrado e Doutorado da Universidade de Fortaleza, com inúmeros trabalhos voltados à modernização e à excelência  dos cursos de Ciências Contábeis, além da Direção do Centro de Comunicação e Gestão desta instituição.

Presidi por duas gestões o Conselho Regional de Contabilidade de Alagoas (1998 a 2001), a Fundação Brasileira de Contabilidade (2002 a 2005) e o Conselho Federal de Contabilidade (2006 a 2009), sendo por tudo isso agraciada com inúmeras homenagens e várias condecorações e títulos. Mas um, especialmente, do qual muito me orgulho é de ter sido a primeira mulher a receber a mais alta e importante comenda da Ciência Contábil brasileira, a medalha do Mérito Contábil João Lyra, outorgada no 20º Congresso Brasileiro de Contabilidade.

Atualmente, ocupo as funções de controladora-geral de Alagoas; presidente da Academia Brasileira de Ciências Contábeis; vice-presidente de Relações Institucionais da Associação Interamericana de Contabilidade; e assessora Técnica da Ifac.

Também ocupo as cátedras n.º 194 da Academia Nacional de Economia (ANE) e a de n.º 5 da Academia Brasileira de Ciências Contábeis (Abracicon), onde estou à frente da entidade até 2021.

Porém, no conjunto das atividades atribuíveis à minha militância classista, talvez nenhuma se compare à minha luta em favor das mulheres contabilistas brasileiras. Essa bandeira da qual não abro mão é a bandeira dos “sonhos possíveis”, que tem sido empunhada, por nós, mulheres contabilistas, na defesa dos interesses da classe contábil, dando-nos forças para superarmos os nossos limites como visionárias, nesses mais de vinte anos de muita luta e persistência.

E assim, hoje, após três décadas de efetivo exercício na profissão, concluo que foram os desafios que me trouxeram até aqui e que me abriram portas para galgar cada degrau na Contabilidade, e a formação em Ciências Contábeis foi um divisor de águas na minha vida, seja como pessoa ou profissional.

 

O que é necessário fazer na profissão para se destacar?

Maria Clara – Acredito que, além do notório conhecimento, da contínua atualização profissional e da perseverança na busca de novos desafios, deve-se ter também muita humildade. Ninguém chega a algum lugar sozinho. Precisamos de nossos pares, dos amigos que vamos amealhando durante o curso de nossa jornada profissional.

À luz dos ensinamentos por mim recebidos, entendi que a Contabilidade para ser plenamente exercida requer, além de dedicação, honestidade e ética, muita boa vontade para vencer os desafios. Tudo isso têm me dado, como presidente da Abracicon, o impulso necessário para trabalhar exaustivamente para o investimento consciente no patrimônio intelectual de nossos profissionais; para a edificação e a difusão da Contabilidade brasileira; para a promoção da valorização educacional, cultural e profissional; e para o estímulo do conhecimento científico, filosófico e tecnológico das Ciências Contábeis.

Assumir posições de destaque ao longo de uma carreira é relativamente fácil; o difícil é deixar um legado de conquistas e êxitos para as gerações futuras.

 

De que maneira a Abracicon incentiva as Academias Regionais?

Maria Clara – Temos por missão incentivar permanentemente o investimento no “patrimônio intelectual” da nossa classe. Esse é o nosso papel enquanto Academias! Assim, deve-se ter em mente que o objetivo maior desta Organização Científica é incentivar e desenvolver o conhecimento tanto filosófico quanto científico e tecnológico das Ciências Contábeis em todos os estados brasileiros por intermédio das Academias Regionais. 

É importante destacar que a Abracicon tem dado todo o suporte necessário para que as Academias possam desenvolver em cada estado projetos de cunho técnico-científico, como o Museu Itinerante, que reconta a História da Contabilidade nos estados, o Quintas do Saber e o Cine-Contábil; e a realização de cursos, seminários, workshops.

 

Como as Academias contribuem com a Contabilidade e a sociedade?

Maria Clara – Todas as Academias têm se unido no único propósito de darem a sua benéfica contribuição no cumprimento da difusão das Ciências Contábeis; na promoção da valorização educacional, cultural e profissional; e no desenvolvimento e estímulo do conhecimento científico, filosófico e tecnológico das Ciências Contábeis. Essas são ações efetivas para que o trabalho dos nossos profissionais se torne um instrumento eficaz para a proteção da sociedade e para o consequente desenvolvimento e progresso do País.

 

Comente sobre a evolução da Contabilidade diante da modernização da tecnologia?

Maria Clara – Hoje a tecnologia está presente em todos os ramos de atividade profissional. A profissão contábil, assim como a própria Contabilidade, é diariamente surpreendida por novas demandas oriundas de uma sociedade cada vez mais exigente. Como uma atividade dotada de grande dinamismo, jamais poderá ficar à deriva, dependendo da posição dos ventos. Nesse afã por novas e eficazes ferramentas de trabalho, surge a tecnologia como nossa grande aliada. São modernas plataformas de trabalho; novos softwares, ditando tendências; e sistemas integrados, com o objetivo de se produzir mais com menos esforço e em tempo real.

É importante destacar que a tecnologia jamais substituirá o trabalho de nossos profissionais, pelo contrário, ela irá gerar mais oportunidades no mercado contábil a partir da atualização profissional.

 

Como a educação continuada contribui para a formação profissional e de que maneira a Academia aplica essa tendência?

Maria Clara – As rápidas mudanças observadas na carreira contábil nos últimos anos obriga o profissional da Contabilidade a buscar a atualização profissional contínua, como ocorre em outras profissões. O mercado exige um trabalho de excelência e a sociedade precisa estar segura de que o serviço que lhe é prestado é de qualidade. Portanto, a formação precisa ser boa e a Abracicon desenvolve uma série de medidas para assegurar e elevar o patamar na formação desses profissionais.

Acredito que o sucesso da profissão contábil dependerá da responsabilidade, competência, dedicação e permanente atualização. Esse é o grande desafio desta e das próximas gerações de profissionais.

À luz dos novos tempos e da expansão das oportunidades, temos oferecido aos nossos profissionais oportunidades de uma formação mais ampla e de um conhecimento multidisciplinar, por meio de cursos, treinamentos e inúmeros eventos, dentro de uma visão holística do universo das ciências naturais, como economia, política e assuntos sociais.

Como já dito, a Abracicon e as Academias Regionais têm por missão promover, divulgar, valorizar e incentivar o desenvolvimento e estímulo ao conhecimento filosófico, científico e tecnológico da Ciência Contábil. Além disso, desenvolve projetos, realiza eventos, exposições, nacionais e internacionais ou quaisquer outras iniciativas que tenham por escopo desenvolver ou divulgar os procedimentos técnicos e as atualizações da área contábil.

Nossa área de atuação é vasta. Editamos a cada dois meses a Revista Abracicon Saber, que publica artigos científicos e incentiva a pesquisa e a produção científica na área contábil.

Além disso, temos o Projeto Quintas do Saber, que traz assuntos atuais para debater com a sociedade pontos fundamentais da Contabilidade que refletem no dia a dia dos brasileiros e possibilitam o desenvolvimento da nação, tais como orçamento público, previdência social, reforma tributária, entre outros.

 

Entrevista: Lenilde Plá de Léon

Foto: Acervo Abracicon