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Administrando e comprando empresas ou bloco de ações pela visão do Acadêmico Charles Holland

*Acadêmico da APC, Charles Holland

 

Já participei de dezenas de aquisições de empresas como conselheiro de empresas, sócio de firma de auditoria e consultoria ou como investidor. Participei de muitos sucessos coletivos e alguns casos coletivos malsucedidos. Foi nos insucessos coletivos que aprendemos, para evitar erros semelhantes no futuro.  

Em geral, os trabalhos de investigação para compra de empresas apresentadas aos conselheiros para referendar ou não compras são superficiais, sem explicações sobre os acionadores de valores – ativos intelectuais, que deveriam estar fundamentando os fluxos de caixa preparados pelos vendedores, com ajuda de especialistas, para determinação do valor justo dessas empresas.

Frequentemente são sopas de números que convencem leigos, ou aqueles que dispensam trabalhos investigativos técnicos para tomadas de decisões por parte dos compradores.

Muitas transações são decididas pelas lideranças dos compradores “no fio do bigode”, acreditando nas suas capacidades de determinar intuitivamente o preço justo de compras dessas empresas. Após algumas aquisições bem-sucedidas ficam convencidos de que suas habilidades intuitivas dispensam tempo e investigações profundas. É aí que ocorrem as surpresas nas pós-aquisições.

Melhor entendimento sobre a empresa, sua cultura interna e de pessoal objeto de aquisição são essenciais, abrangendo os processos de vendas, produção, finanças, administração, tributário, respectivas avaliações de contingências e dos ativos intelectuais (quais são e quanto valem) sendo adquiridos na transação. Essas sinergias e complementariedades são essenciais antes de selar acordo de compra.

Como investidor, para obter informações sobre o conteúdo dos ativos intelectuais (diferença de valor de mercado ou desejado pelo vendedor com valor contábil) é sempre insatisfatório. Os resultados nas empresas acontecem em função dos acionadores de valor – os ativos intelectuais. Sem entendê-los, é como dirigir seus negócios, ou decidir por compras, de olhos vendados.

Introduzindo uma nova ênfase e conceito para a maioria, os ativos intelectuais são os “drivers” acionadores de valor que fazem os resultados e fluxos de caixa acontecerem e que fundamentam o valor da empresa

Os ativos intelectuais das empresas usualmente são omitidos de explicações para as principais lideranças das governanças dessas empresas e seus respectivos acionistas ou donos. Inexistem ou são poucas as explicações, úteis, entendíveis e necessárias para os usuários interessados.

Prestação de contas de empresas hoje fica restrita aos ativos e passivos tangíveis. Caixa e bancos, contas a receber ou a pagar, ativo imobilizado, empréstimos e outros. É insuficiente. Os ativos tangíveis auditados e reportados representam 10% do valor das 500 maiores empresas abertas nos Estados Unidos, conforme estudo com base nas S&P 500. Os 90% restantes são ativos intelectuais. Inexiste explicações sobre o conteúdo dos ativos intelectuais, que os contadores denominam de ativos intangíveis.

Entender os ativos tangíveis - 10% do valor das 500 maiores empresas abertas nos EUA é suficiente? Definitivamente, não!

O que são ativos intelectuais?

Ativos intelectuais são resultantes das diferenças apuradas entre o valor de mercado das empresas com base nos preços praticados e negociados diariamente nas bolsas de valores, comparados com os respectivos valores contábeis divulgados.

Regra geral, o mercado considera como valor justo o apurado usando os preços correntes dessas ações negociadas nas bolsas de valores.

Como esses ativos intelectuais (adicionadores de valores – “drivers”) fundamentam o valor da empresa?

Esses ativos são a capacidade de gerar resultados futuros e de valor com base nas expectativas de fluxos de caixa. Entre muitos, os principais são vantagens competitivas reconhecidas nos processos macro e micro de produção, logística, vendas, administração, recursos humanos e finanças - mais qualidade, custos menores, rapidez, eficiência, e outros diferenciais competitivos decorrentes do uso de aplicações de inteligência artificial, de atendimento de clientes via chats interativos, integração de processos de automação e de robotização eliminando trabalhos manuais, e formas inovadoras e inspiradoras de liderança, vendas, produção, logística, marketing, atração e retenção de talentos, políticas inspiradoras de sustentabilidade e de treinamento, imagem de idoneidade e de responsabilidade, reputação, qualidade e agilidade dos processos e de serviços, entre outros.

Todos têm valor, cada vez mais ofuscando os ativos tangíveis contabilizados nas empresas (dinheiro, imóveis, máquinas e outros).

Na TOTVS, os ativos intelectuais representam atualmente 89,2% do valor da empresa. Só 10,8% são ativos tangíveis, contabilizados e auditados anualmente. Muitas empresas abertas brasileiras estão em situação semelhante. Cada vez mais, os valores tangíveis perdem relevância em relação ao valor de mercado destas empresas.

A atenção das governanças das empresas sobre os ativos físicos (tangíveis) é boa, porém fraca sobre os ativos intelectuais.

Administrar e comprar empresas tem muitas características semelhantes. Ambos exigem de suas lideranças brilhos nos olhos, ânimo, vitalidade, dedicação, experiência e, acima de tudo, habilidades para liderança, trabalhar em equipe, ouvir, ser curioso, questionador e justo.

Acima são lembretes para os dois temas com complementariedades. Ambos exigem conhecimentos para gestão, tomada de decisões e dedicação contínua. O link a seguir contém o capítulo do autor no livro de 2021 publicado pela Academia Paulista de Contabilidade – “Os Conceitos que fundamentam as Normas Internacionais de Contabilidade em vigor precisam ser atualizadas”. Lá encontrarão argumentos e fundamentações técnicas mais detalhados.

*Acadêmico da APC, Charles Holland